sábado, 12 de fevereiro de 2011

Sobre uma eventual islamização do Egito ou uma mais provável explosão do Paquistão

O Egito, enfim, já é Islâmico. Essa é a opção religiosa da imensa maioria do seu povo.

Quanto à islamização do Estado Egípcio, vejo como pouco provável dada a amplitude suprapartidária e suprareligiosa dos grupos oposicionistas mais mobilizados e mobilizadores em torno das manifestações em curso.

Há gente até ligando a Irmandande Muçulmana egípcia à Al Qaeda!

A Irmandade Muçulmana sediada no Egito tem tanto a ver com a Al-Qaeda quanto José Serra tem com a defesa da Petrobrás e do petróleo como patrimônios nacionais intocáveis.

A Al-Qaeda, se tem mãe, ela é uma e somente uma, e exatamente a diametralmente oposta à citada.

A Al Qaeda foi parida diretamente, e com a presença de uma única parteira, das entranhas da Secretaria de Defesa dos Estados Unidos da América.

E a única parteira a colaborar para o evento chama-se Arábia Saudita.

Deste casamento: Estados Unidos da América e Arábia Saudita -, nasceram quase todas senão absolutamente todas as manifestações de fundamentalismo radical no mundo Islãmico, como também guerras, conflitos religiosos, étnicos e tudo mais que assombra aquela vasta região do planeta e, por tabela, invade nossos piores pesadelos ocidentais.


Há cerca de dois séculos, dois clãs: o dos Saud e o dos Wah'aab se uniram em busca da unificação e domínio da Península Arábica.

A partir daí, depois de imensa sucessão de fatos, e não sem a - como sempre carcinogênica - interferência das potências ocidentais, afastando outras interferências como a Otomana por exemplo, isso vai redundar na unificação posterior dos reinos, salvo engano quanto aos nomes, de Hejas e Nejd na década de 30, consolidando a unificação do Reino da Arábia Saudita.

Lá dos Wah'aab, permanece como herança até hoje o que  é conhecido como Wahaabismo que é - da mesma forma que existem inúmeros similares nos mundos cristão e judaico - uma forma brutalmente radical de Islamismo.

E é esta a filosofia que permeia o pensamento da Família Real Saudita, uma Monarquia Feudal, brutal, e estribada militarmente e protegida - em troca de exclusividade petrolífera - pelos Estados Unidos da América.

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SANGUE & ÓLEO | CLIPE 02 | UMA DECLARAÇÃO DE DEPENDÊNCIA
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Foi este casal (al-Mamlaka al-ʻArabiyya as-Suʻūdiyya & United States of America) que nutriu, educou, patrocinou e enviou um de seus mais prodigiosos filhos - Osama bin Laden -, para montar e comandar um exército de guardiães e proteger o acesso norte às fronteiras do Irã (em cujo extremo sul, por sua vez, se situa um dos principais canais de escoamento para o líquido viscoso que lubrifica e mantém a excitação deste casamento) do eventual estabelecimento de uma "cabeça-de-ponte" por parte de outro Impéirio, desta feita o Soviético, também "tarado" pelo tal líquido viscoso.

Um outro filho querido da  família, mais especificamente de um braço da família denominado The "Bush" Family, resolveu se tornar um menino muito desobediente e atacou a chácara de outro dos inúmeros filhos da família, a chácara Kuwait, estacionando perigosamente tropas bem à cabeceira da mãe Arábia, acordada de súbito do seu tranquilo sono sempre velado e garantido pelos Estados Unidos desde 1945.

Na Arábia Saudita estão as duas cidades consideradas sagradas pelo Islamismo (Mecca e Medinah), assim como por cá temos as nossas como Roma e Jerusalém.

Há, portanto, uma resistência muito grande quanto ao estacionamento de tropas às proximidades de lugares tão especiais para mais de 1 bilhão de praticantes de uma religião que prega eloquentemente a paz como é o Islamismo.

É por isso, que a Família Real Saudita se viu numa encruzilhada.

Recebeu a oferta de socorro de seu amado parente Osama bin Laden e, ao mesmo tempo, a insistente e persistente oferta de ajuda por parte de seu velho concubino, os Estados Unidos.

Achando as forças Talibã e assemelhadas insuficientes para rechaçar a ameaça iraquiana, os ibn Saud, acabam, muito a contragosto, aceitando a ajuda estadunidense desde que as tropas "infiéis" abandonassem o solo sagrado assim que o perigo eminente cessasse.

E assim foi feito. E, desde então, Osama bin Laden, indignado ao assistir a maciça presença "infiel" armada em solo sagrado, bem como não menos indignado com o desprezo, humilhação e desonra a que fora submetido, se torna um inimigo da própria família que o gerou, nutriu e educou.

Quanto ao outro filho, Saddam Hussein, ficou decidido que fosse deserdado e - após vigorosa campanha para angariar apoios - que fosse, por fim e definitivamente, castigado.

É assim que passamos a conhecer os abusos do ditador (que, diga-se de passagem, nada tinha a ver com religião, coisa que o mesmo queria ver o mais distante possível dos seus domínios) sem, contudo, entretanto, todavia, que nos fosse dado conhecer a história inteira.

Sabemos, por exemplo, que o exército iraquiano usou armas químicas e/ou biológicas contra a nação separatista do povo Curdo (que luta pelo estabelecimento de seu estado independente, em terras hoje sob o domínio não só do Iraque - como fica parecendo - mas também da Turquia, Síria e Irã).

Apenas nos foram descaradamente surruipiados os fatos de que:
  • a) as brutais armas usadas contra os Curdos eram de fabricação e fornecimento direto dos Estados Unidos e do Reino Unido;
  • b) Que tanto os Estados Unidos quanto o Reino Unido continuaram fornecendo do mesmo jeito as mesmas armas ao Iraque mesmo depois do amplo conhecimento, no detalhe, sobre seu uso no massacre curdo.

O resto da história nós conhecemos e temos as ações contra o Irã (que repetem absolutamente a mesma estratégia) para nos relembrar:
  • I. Demonizamos o país e seus líderes usando os mesmos rótulos ou bandeiras de sempre: democracia, radicalismo, ameaça à paz, armas de destruição em massa etc etc;
  • II. Como resultado dessa propaganda, passamos sanções contra o país (que todos sabém inócuas pois vitimizam avassaladoramente a população e fortalecem os governos) para buscarmos seu isolamento e o enfraquecimento de suas defesas;
  • III. Quando o país estiver suficientemente isolado e enfraquecido, nós finalmente entramos. 

É o mesmo filme, remasterizado.

Mas acho que não vai funcionar com o Irã porque:
  • 1. O  Irã é uma nação consolidada, integrada, com forte espírito de nacionalidade e moderna;
  • 2. Por mais que "vendam" a ideia contrária, o Irã não é uma ditadura mas, apenas uma República Islâmica com instituições fortes e em pleno funcionamento, um regime diferente do nosso que nos cabe apenas respeitar, deixando o seu julgamento para quem de direito, os iranianos.

O Irã não representa nenhuma ameaça seja á paz regional seja à paz mundial.

Já o ataque diuturno ao Irã e seu enfraquecimento, sim, representam.

Um Irã forte, sem atacar ninguém como nos últimos 200 anos pelo menos, é essencial ao equilíbrio regional.

Para colocar um pouco de freio nas ambições desmedidas, irresponsáveis e genocídas do casal supracitado, que já destruiu - só na última década - as vidas e a paz de mais da metade do Oriente Médio inteiro.

E nem o Irã, nem a Síria, nem ninguém do chamado Eixo do Mal tem um milímetro de responsabilidade em tanta desgraça.

Aliás, genocídio, promoção do fratricídio, suporte a ditaduras, derrubada de democracias, carnificinas, preconceito, miserabilização de povos e nações, estupro moral serial de tradições, culturas e religiões, saque a recursos naturais, disseminação do ódio como base filosófica, são pressupostos, métodos e tecnologias quase que de propriedade exclusiva do "Eixo do Bem".

Se você está entre os que vivem aterroizados pela ameaça do terror, seus (e meus também) temores entretanto por certo não são infundados.

Pois o pior está por vir, e a galope.

Se não chegou ainda, talvez seja a benevolente, parcimoniosa e generosa mão do Profeta intercedendo por nós.

É uma bomba do tamanho do mundo inteiro e que, mais uma vez, foi armada e lá plantada e será detonada pelo mesmo Eixo do Bem e, como sempre, com a participação protagonista do mesmo casal, Estados Unidos da América e Reino da Arábia Saudita, irretratáveis, irretocáveis e incansáveis  no cumprimento de seu destino instintivo de parir homens-bomba e explodir pátrias-mãe.

Há muito tempo, o Império Britânico deu sua contribuição coadjuvante ao exercitar seu incomparável talento para criar Estados "inimigos para sempre" (através de acordos, partilhas, tratados, convenções etc) ao insuflar e induzir a divisão da Índia em três contra todos os esforços do imortal Mohandas Karamchand "Mahatma" Gandhi.

Nasciam, além da Índia, dois "paquistões", um dos quais se tornaria o atual Bangladesh - que está fora desta história e, aliás, lutando ferozmente por ter direito a uma história, qualquer que seja, desde que de vida sobrevivente.

Depois, temos a Arábia Saudita financiando com fundos e mundos a difusão de seu mais radical dos pensamentos Islâmicos por todo o território paquistanês, como premissa ao seu apoio - e o do seu concubino Estados Unidos - a alguns ditadores do Paquistão.

Como acarajé sem pimenta perde um pouco do apelo, em paralelo ao apoio à ditadura, e à disseminação do radicalismo, o casal também resolveu dar seu suporte ao Programa Nuclear do Paquistão - como forma de manter sob controle alguns vizinhos - unindo definitivamente o inútil ao desagradável.

Por fim, os Estados Unidos invadem o Afeganistão e persistem anos a fio numa guerra absolutamente surrealista e irrealista, que é por característica intrínseca ao seu teatro de operações uma guerra que não respeita a fronteira entre os dois "tões", desestabiliza o pouco que resta do estado/governo paquistanês e coloca à total deriva um "belíssimo" arsenal nuclear bem no caminho entre a mesquita improvisada - sobre os escombros de alguma outra milenar - (que eles mesmos puseram abaixo com suas "armas de precisão cirúrgica" quando tentavam atingir algum palácio de Saddam a uns mil quilômetros de distância) - bem a meio caminho entre o resto de casa e o resto de mesquita onde os fanáticos que eles mesmos inventaram moram e vão rezar diariamente.

Conter essa ameaça real eminente é uma das missões colaterais do Programa Nuclear do Irã que, infelizmente, nem mesmo eu a milhares de quilômetros defendo mais que seja pacífico.

O Irã precisa e o mundo precisa que o Irã tenha armas nucleares o mais breve possível.

Esta pelo menos é a minha opinião e a opinião - que tal qual a minha evoluiu e mudou totalmente nos últimos 10 anos - a opinião de quase 60% dos entrevistados (no Mundo Árabe, em países na sua maioria inimigos do Irã) em pesquisa realizada no final de 2010 pela Brookings Institution, um think tank dos EUA, respeitado tanto por Democratas quanto por Republicanos.

Por isso, em nada me preocupa uma eventual islamização do Egito, ainda mais se sob a influência da "extremada" pacífica e pacifista Irmandade Muçulmana.

Por isso, também, em nada me preocupa os assuntos internos à República Islâmica do Irã.

Me preocupam, sim:
  • o Paquistão Fanático Desgovernado Atômico;
  • o Colômbistão (e suas incontáveis forças militares, paramilitares, metaparamilitares, parametamilitares e toda sorte de combinações similares possíveis, onde as FARC é dos males o menor) bem aqui ao nosso lado;
  • a infinita prole explosiva do casal Tio Sam e tia Ibn Saud;
  • as cachoeiras de dinheiro descendo para desestabilizar a vizinha Venezuela e por conseguinte o continente inteiro;
  • e nosso pre-sal, e a governabilidade para nossa Presidenta, e o combate à miséria e o fomento à educação e, enfim, nosso futuro.

O mais longe possível, desejo que estejamos, de quaisquer interferências das velhas podres potências sempre amigas de sempre.

Que cuidem dos seu povos, aos quais dedico meu mais profundo carinho e respeito.

Mas que parém de tocar com seu dedo de SadiM ('Midas', ao contrário) a vida dos outros povos e nações.

E quando se fizer ouvir o estampido paquistanês das bombas que os dedos de SadiM já há muito detonaram, é bem provável que, de sob algum escombro em chamas do planeta, ainda me apareça alguém que consiga acessar essa página somente para escrever que "um maluco fanático com uma manchinha na testa explodiu o mundo".

Que a paz - e a liberdade - esteja sobre o povo do Egito.

E sobre todos os povos do mundo.

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axé
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السلام عليكم
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umuntu ngumuntu ngabantu
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ansanm nou ka anbrase mond la
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VEJA TAMBÉM:

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  1. O Fardo do Homem Branco & A Maldição de Outros Farós
  2. A Mídia como ela é. O Islã como ele não é.
  3. O Choque de Civilizações
  4. The Most Powerful Woman in the World
  5. O Legado Lula & A Campanha Que Não Acabou
  6. El Legado de Lula (Canal 7 - Argentina)
  7. Homenagem do Continente a Lula da Silva
  8. Honra ao Mérito
  9. Eu Vivi para Ver Meu Povo Virar Estrela
  10. O Homem Mais Sábio Que Conheci em Toda Minha Vida...
  11. Um Momento Histórico "Ao Sul da Fronteira" | Nada parecido desde Bolívar!
  12. O homem que soube dizer 'não', 'por que não?' e 'sim, nós podemos'!
  13. A Falsa Democracia (por José Saramago) e A Força do Brasil

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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Wikileaks | Estratégia para Engajar o Brasil na 'DIFAMAÇÃO de RELIGIÕES'

Queridos amigos (favor terem seus saquinhos-de-vômito à mão).

Não sei se vocês já viram...

Mas diante da última mensagem que acabo de ler do Wikileaks a questão do Rabi Sobel nem existe (e eu mesmo que sou combatente até meio bruto contra as barbaridades que se monta contra o Islã sei que ele não é má gente não, é que a máquina de pressão é pesada sobre ele também).

O título do "cable" CONFIDENTIAL enviado da Embaixada de Brasília é bem singelo: "Strategy for Engaging Brazil on Defamation of Religions" (ESTRATÉGIA PARA ENGAJAR O BRASIL NA DIFAMAÇÃO DE RELIGIÕES).

Na verdade, a objetividade telegráfica faz ainda parecer "mais péssimo" do que parece.

Mas, não se assustem, o conteúdo em si é apenas abjeto e asquerosamente pessimamente horroroso (é que o título consegue fazer ainda parecer pior, se isso é possível... já estou perdendo a noção dos limites!). O suficiente para me fazer devolver o almoço antes de digeri-lo (eu já deveria estar mais amadurecido para não me ensandecer tanto com coisas assim). Passo os links a seguir. Infelizmente, peço desculpas a todos, mas mandarei os links para os documentos em inglês mesmo pois até tenho medo de pesar a mão numa eventual tentativa de tradução.

Trata-se de uma proposição do representante do Paquistão na ONU para que a Assembleia Geral passasse uma resolução considerando a difamação religiosa simplesmente um ato de discriminação, uma violação aos direitos humanos.

Isso foi em 2009. Em 1999, a Organização das Conferências Islâmicas  (OIS) já havia apresentado uma proposta semelhante que, vindo deles, parece que foi simplesmente ignorada.

Ambas as propostas não eram para proteger somente meus amados muçulmanos, mas contra a discriminação a quaisquer religiões ou não religiões, incluindo difamação a religiões afro, politeístas, difamação contra ateus, anti-semitismo e tudo mais.

Pois o Governo dos EUA achava que isso poderia prejudicar sua campanha contra países como o Irã e não só iria votar contra como estava fazendo campanha para cooptar votos e embargar, derrotar a proposta contra a difamação de religiões. 

Ouviu do Governo do Brasil que nós jamais votaríamos a favor de uma barbaridade dessas (ou seja, votaríamos a favor da proposta, contra os embargantes) pois isso feria nossos princípios constitucionais, morais, nacionais, éticos, humanos e achávamos que feria esses mesmos valores em qualquer país, em qualquer lugar...

Pois o senhor embaixador pragmático apenas concluiu que estávamos motivados, pragmáticos como ele, pelo nosso velho interesse de sentar ao Conselho de Segurança e que não queríamos perder o voto de alguns países como Irã, Turquia etc etc.

E, por isso, sugere, na sua mensagem, uma estratégia, que inclui a possibilidade de tentar usar a pressão de alguns veículos como VEJA, ESTADÃO, O GLOBO, que ele acredita que talvez pudessem levantar a "bola", deslocando o foco para outros itens da votação e se o fizessem poderiam angariar o apoio de boa parte de nossas ELITES (o que, apesar de configurar-se numa estratégia sórdida e canalha dedicada ao atingimento de objetivos não menos sórdidos e canalhas - conhecendo a sordidez e canalhice de parte de nossas elites - talvez pudesse até lograr algum sucesso: no convencimento de alguma fração das nossas elites, mas não do nosso governo), e usar a pressão de alguns outros países, algumas igrejas e "movimentos" (neo-nazistas? nordestófobos? homófobos? candoblófobos? antes das últimas eleições acharia impossível mas depois já não sei mais nada) para ENGAJAR O BRASIL NA DIFAMAÇÃO DE RELIGIÕES!


Repetindo: 

'E N G A J A R   O   B R A S I L   N A   D I F A M A Ç Ã O   D E   R E L I G I Õ E S'.


Seguem alguns Links (infelizmente, tudo está em inglês):

[Peço que leiam atentamente pois, diante da indignação,
posso ter cometido algum equívoco de detalhe.
Contudo, a essência do meu entendimento
me parece conferida a contento
em fontes suficientes.]


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1. O "cable" do WikiLeaks
http://213.251.145.96/cable/2009/12/09BRASILIA1435.html

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2. A estorinha contada no WIKIPEDIA:
http://en.wikipedia.org/wiki/Defamation_of_religions_and_the_United_Nations

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3. A ATA DA ASSEMBLEIA DA NAÇÕES UNIDAS

ELES NÃO NOS CONVENCERAM! 
NÓS VOTAMOS CONTRA ELES EM TUDO E CONTRA A DIFAMAÇÃO DE RELIGIÕES! ELES - REPITO - ELES VOTARAM A FAVOR DA DIFAMAÇÃO DE RELIGIÕES!
Nós só nos abstivemos - o que foi contra eles também - em uma ou duas votações que já eram derivativas  ou, melhor, diversionistas, condenando o Irã e a Coréia por violação de direitos humanos.

http://www.un.org/News/Press/docs/2009/ga10905.doc.htm

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Tenho mais  algumas informações adicionais (na verdade sobre o Egito).
Mas os links essenciais são esses.
E eu preciso vomit... até mais...

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P.S.: Anexei o presente vídeo (perdão, também, pela falta de legendas) porque este foi um dos poucos homens - talvez o único - que disse, de dentro do sistema, o que tinha de ser dito, fez a única coisa que realmente fazia algum sentido. Morreu por isso.


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A Única Mensagem Vazada Que Precisamos.
Dos Mais Altos Cumes das Montanhas da História.

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Tenho me sentido muito incomodado, menos com os fatos apesar de suas enormes dimensões, e por demais com a imensidão das aberrações e monstruosidades que estão por todo lugar. A divisão do mundo em bem e mal  me deixa profundamente abatido com a sensação de que sou de um ainda mais outro lugar onde quer que esteja.  Pouco antes de ver essa aberração via Wikileaks recebi um e-mail surpreendente de uma amiga turca que estava na praia em Asmarra se não me engano (sei que é um lugar famoso mas não lembro agora onde fica). Ela tinha acabado de chegar no Cairo. Ele não tem nada a ver com a história. Ela é uma mulher muito rica, de uma família muito rica da Turquia e Presidente da maior ou uma das maiores agências de propaganda da Turquia (na verdade para mais de 15 países) que é estadunidense. Ela só tem a perder com a Revolução Egípcia.  Mas ela e a maioria na região está sentindo a dimensão histórica do momento e como ela é do "status quo" conseguiu entrar, mas para ir "apanhar" junto com o povão. E me disse que estava desesperada atrás do pessoal de dois grupos que são os únicos que podem fazer frente aos monstros da repressão: são as torcidas dos principais times futebol do Cairo que é o que existe de mais fanático na região. E eu sei que é verdade. Ai passeio de TV em TV, jornal em jornal, site em site e ouço gente falando até na possibilidade de homens-bomba explodindo, acreditem, o Museu Nacional do Cairo. Isso aqui no Brasil e não na Veja nem é aquele tolete falante boiando num canal de Veneza direto para o Manhattan Connection. Na sequencia, ai a culpa já é minha, vejo o mesmo sujeito que chamou nossa Presidenta de ex-comunista e ex-guerrilheira (o que por sinal me é grande motivo de orgulho) fazendo um cálculo para milhões de espectadores, com dados todos "comprovadíssimos" demonstrando que de 1 a 1,5% de todos os muçulmanos do mundo são terroristas e, mais: mexem com explosivos. Amados, esse sujeito tem que ser internado: manicômio judiciário. Isso dá não menos que cerca de 150 MILHÕES de homens bomba! 150 milhões! Deixa o Irã enriquecer seu urânio... quem precisa de arma nuclear? Pois na última vez que vi Sabire ela estava embriagada pulando feito louca sobre a mesa do meu quarto no hotel porque ela tinha descoberto e me dado de presente um dos textos mais importantes da minha vida que eu nunca mais tinha conseguido achar. Li a obra de Nietsche quase toda em busca e não encontrei e ela conhecia. É um texto inacabado com o título provisório  "Verdade e Mentira no Sentido Extra Moral". E trata exatamente de tudo que está acontecendo ou, melhor, de como todas as percepções sobre tudo o que está acontecendo simplesmente não são. Como essa verdade toda é uma grande mentira. E como o Bem é o maior mal que se já se fez à humanidade. E é por compreender isso que Sabire está lá no Cairo embriagada do mesmo jeito que lá em casa (eu morava no hotel), embriagada pela vida porque, enfim, apesar da embriaguez aparente ela não bebe, ela é muçulmana, ela é irmã de Martin Luther King Jr que era pastor mas sabia entender esse Tao de bem meio mal e por isso subiu ao topo da montanha. No último trecho, ele fala da montanha após chegar muito atrasado à sua pregação porque seu avião estava carregado de bombas. Diz que mesmo assim não temia nada nem ninguém, porque esteve no topo da montanha e viu que mesmo que ele não fosse junto, que alguns de seu povo chegariam a uma terra prometida. E sai da palestra e é assassinado poucas horas depois. Ele não precisava de nada disso. Já havia conseguido muito. Os direitos civis para os negros americanos e muito mais. Já era um Prêmio Nobel.  Mas foi contra todos, inclusive os "radicais" que não chegavam a tanta coragem para bater no seu próprio país em meio a uma guerra. E falou todas as verdades. Disse que se os EUA pensavam que eram os policiais messiânicos do mundo, eram ao contrario os perpetuadores de todos os males e dores pela sua arrogância, e que Deus viria quebrar a espinha dorsal do poder estadunidense e entregar o poder a um país que nem conhecesse seu nome (o de Deus). Lembremos que ele era um pastor. Conta a história do Vietnã por inteiro e mostra abertamente o quão grande homem Ho Chi Min era. Mesmo morrendo, ele - com a ajuda de muitos é claro - conseguiu parar aquela guerra. A música Pride do U2 é em parte para ele. Contudo, mais de 30 anos depois nós podemos simplesmente ir substituindo a palavra Vietnã pelo nome de mais de 50 (cinquenta... CINQUENTA) países diferentes onde se passaram histórias não menos bonitas com sempre o mesmo protagonista. E nos textos inteiros de dois desses discursos que aparecem no vídeo ele antevê alguns como Venezuela, Guatemala, uns do Oriente Médio...

Uma Nova Ordem Mundial urge.

Um homem a descreveu inteira faz muito pouco tempo na mesma Assembleia Geral da ONU que, com nossa ajuda, derrubou o nazismo estadunidense e repudiou a Difamação de Religiões.

E foi exatamente o nosso Exmo. Sr. Presidente.

Vale a pena também assistir a seu discurso de 2009.


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axé
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السلام عليكم
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umuntu ngumuntu ngabantu
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ansanm nou ka anbrase mond la
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VEJA TAMBÉM:

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  1. O Fardo do Homem Branco & A Maldição de Outros Farós
  2. A Mídia como ela é. O Islã como ele não é.
  3. O Choque de Civilizações
  4. The Most Powerful Woman in the World
  5. O Legado Lula & A Campanha Que Não Acabou
  6. El Legado de Lula (Canal 7 - Argentina)
  7. Homenagem do Continente a Lula da Silva
  8. Honra ao Mérito
  9. Eu Vivi para Ver Meu Povo Virar Estrela
  10. O Homem Mais Sábio Que Conheci em Toda Minha Vida...
  11. Um Momento Histórico "Ao Sul da Fronteira" | Nada parecido desde Bolívar!
  12. O homem que soube dizer 'não', 'por que não?' e 'sim, nós podemos'!
  13. A Falsa Democracia (por José Saramago) e A Força do Brasil

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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fábricas de Mitos. Moinhos de Heróis.

O "Choque de Civilizações"





Já foram judeus. Já foram alemães.

Antes e depois os russos. Eles, também, fizeram parecido mas, nós, aqui, não vimos.

Agora são os mulçumanos (que todos viraram árabes) e os árabes (que todos viraram mulçumanos) que (ambos) viraram todos feios, gordos, sujos, fedorentos, maus, psicopatas, violentos e tudo de menor e pior pelas telas dos cinemas e dos noticiários de televisão e páginas de jornal e internet do mundo.

Sem falar nos "zoombies" das telas que assombram o diametralmente oposto Vodou seja no Haiti seja em New Orleans.

Se imagine criança, se assistindo assim por todo lugar.

E as etnias indígenas cujo "inocente assassinato" foi por décadas - e ainda hoje em muitas sobras - o inocente objetivo dos inocentes jogos infantis tais como "Forte Apache" e sua prole infinita.

E minhas gentes, tradições e fés da minha tão brasilera e maior cidade africana fora d'África ainda tão escrava de imagens e percepções sempre diminuidoras, denegridoras (até em simples palavras herdadas), rotuladoras exceto quando "generosamente" folclorizantes.

Pois que todos, juntos, todos e cada um, precisamos reconsagrar nossos Deuses.

Para que eles ressuscitem e resgatem nossos heróis das tumbas.

E que nossos corações possam retumbar para muito além do tambor.

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por Guilherme de Alarcon Pereira
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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A Maldição de Outros Faraós

No seu artigo “Repercussões da crise do Egito”, o jornalista Luis Nassif tocou na palavra mágica que responde a todas as perguntas sobre o Egito em relação ao Ocidente: Suez.

Eu acrescentaria, com meu insistente reducionismo frente aos problemas do mundo - limitado que sou pelas minhas inerentes limitações - alguns binários, no que tange a toda a região e, aliás, ampliando-a um pouquinho, indo do Vale do Indo até o Vale do... ORINOCO!

Até no devastado Ayiti vejo, não tão diretamente admito, alguma relação com a história em curso.

Isso porque, se o Cairo guarda as chaves de Suez, o Ayiti guarda as chaves do Canal do Panamá.

Se algum navio vem do Pacífico e cruza o Canal, tadinho, é como se não o houvesse cruzado, pois ele ficará encalhado em algum ponto daquele semicírculo esbranquiçado que vemos quando olhamos o Caribe em qualquer mapa.

A única passagem com profundidade possível, ontem e hoje e por muito tempo, fica seguindo, primeiro, entre Jamaica e Cuba e, em seguida, entre Cuba e Haiti.

Ninguém nunca se perguntou - nem eu o havia feito até há pouco - porque Guantánamo (construída num tempo em que não havia Revolución e Cuba era somente um "casino-prostíbulo yankee") fica tão longe de La Havana e tão defronte de Port-de-Paix (Ripiblik d'Ayiti)?

É para guardar todo o trânsito de riquezas (incluindo manter aberta uma rota alternativa para petróleo) que vai e vem do Pacífico e de e para a Costa Leste dos EUA.

  • ÓLEO & SANGUE

  • LOGÍSTICA & ARMAS

  • FEUDALISMO & "O FARDO DO HOMEM BRANCO"

Em minha humilde opinião, esses 03 pares de binários resumem a ópera, se não detalham a ópera inteira.

Não vejo em G. W. Bush nenhum monstro mas um "patriota" - dentro do que sua linhagem desde Thomas Jefferson acredita ser isso - um pouco mais honesto ou menos hábil na arte do cinismo.

Tudo o que acontece naquela vasta região tem, grosso modo, a mesma causa, objetivo e efeito.

Perpetuar e proteger os feudos de apoio (quase todos os países da região como Tunísia e Egito, incluindo alguns com grau maior de independência do Senhor Local - como no caso do Reino Hashemita da Jordânia) e principalmente "a qualquer custo e por todos meios" (esses termos foram usados ipsis litteris por vários Presidentes dos EUA) blindar as posses do Grande Senhor Feudal, a Família dos Saud, e os canais de escoamento do petróleo que jorra de seu imenso "sítio" através do Estreito de Ormuz pelo Golfo Pérsico e do Estreito de Aden (entre Iemen e Somália) até o Canal de Suez.

Existem outros caminhos logísticos como o complexo sistema de dutos nas imediações do Mar Cáspio mas, neste caso, sob a pena do confronto tête-à-tête com o outro não menos Império e não menos sedento, apenas não mais "Soviético" mas ainda Império, agora apenas chamado Russo.

Todos os outros discursos e motivações: Islão, fundamentalismo, democracia, autoritarismo, terrorismo, comunismo, capitalismo, direitos humanos, guerra fria ou quente, sionismo ou anti-sionismo etc etc são subjacentes, coadjuvantes ou, na maior parte dos casos, mera retórica vazia ou instrumentos diversionistas de propaganda.

Para muitos destes Senhores da Guerra, Israel é tão somente um imenso "paiol" estrategicamente localizado. Ou, por outra perspectiva, um eterno pomo-da-discórdia a embargar quaisquer projetos de unidade ou construção de um bloco regional.

George W. Bush já declarou aberta e insistentemente: "America is addicted to Oil" (Os EUA são viciados/dependentes de petróleo) e quase todos os Presidentes declaravam abertamente a necessidade de defender - “a qualquer custo e por todos os meios” - a Arábia Saudita e os canais de fluxo do Golfo Pérsico, inclusive militarmente, até que Saddam invadiu o Kuwait e estacionou tropas à fronteira do grande reservatório.

O Rei Fah'd Ibn Saud recebeu inicialmente a proposta de defesa da fronteira vinda do seu súdito Osama bin Laden enviado e patrocinado por ele e pelos EUA para conter o estabelecimento estável pela URSS de uma cabeça-de-ponte na fronteira do já não-feudo Irã.

Os EUA fizeram o possível e o impossível para que o Rei deixasse “We, US” cuidar do caso.

Mesmo reticente a tantos infiéis estacionados em solo sagrado, o Rei Fahd aceita o apoio desde que as tropas estadunidenses abandonassem o país assim que a ameaça cessasse.

E é por isso que os EUA, sem base de apoio suficiente, não invadem o Iraque à época.

É por isso que - ao ser ignorado, ao ver tantos infiéis em solo sagrado e, um pouco também, ao se transformar num ótimo bobe expiatório mercadológico terrorista inimigo - Osama bin Laden se torna um terrorista inimigo.

É por isso que se faz necessário uma base no Afeganistão e uma aproximação cada vez maior com os Emirados.

Finalmente se consegue tomar o Iraque.

Bem antes, entretanto, o povo estadunidense que, em geral, leva a sério os valores da sua Constituição que aprendem na escola, era contra uma "guerra por petróleo".

É ai que o discurso muda radicalmente em nome da "democracia, liberdade, direitos humanos" e assemelhados desde o Governo de "daddy/papai" Bush que assim consegue aprovar a "Tempestade no Deserto" (Golfo/Iraque I).

Tanto pelo Planejamento Estratégico de Defesa quanto de Energia legado pela administração G. W. Bush, temos em vista para os próximos 25 anos o que podemos chamar de doutrina da "Extração Máxima" que redunda na decorrente "Militarização Máxima" da região.

O vício em petróleo dos EUA começa há muito. Mas os EUA era de largo super-auto-suficiente.

A Europa não. Tanto que precisava do espólio Otomano mesmo quando o Óleo não parecia tão essencial assim e exorta os EUA a derrubarem o Primeiro-Ministro Mossadegh e destruir a democracia iraniana na Operação Ajax.

Mas os EUA abasteceram 6 de cada 7 gotas de petróleo usadas na 2º Guerra Mundial.

Se pudéssemos resumir em 02 expressões o como e porque o mundo conseguiu evitar o Reich de 1.000 anos, eu, pelo menos, resumiria - simploriamente, é claro: petróleo estadunidense e obstinação russa.

Mas o próprio Roosevelt, visionário, enxergou que como em toda dependência, chega o momento em que nem toda droga do mundo será suficiente e fechou seu pacto de “Sangue e Óleo” - na inusitada reunião (as imagens são muito interessantes) - em 14 de fevereiro de 1945, numa reunião com o Rei da Arábia Saudita (cercado de escravos).

E o momento chegou. Há muito, nem todo o petróleo do mundo – pelo menos árabe - é suficiente.

Hora de “nosotritos” começarmos a criar nossas barbas para colocá-las urgentemente de molho.

Desde que o Presidente ”New Deal” da Grande Democracia se viu cercado por escravos, oficialmente escravos (a escravatura na Arábia Saudita só foi abolida na década de 60 ou 70; se bem que o “Apartheid” brutalmente legalizado – quando “um negro do Sul não podia votar e um negro do Norte não podia ser votado” - somente começou a ser amenizado também na Grande Democracia também na segunda metade da década de 60) e selou seu “Newer 'Blood & Oil' Deal”, desde então a história prossegue, num espiral crescente e retroalimentador, ganhando ainda mais impulso com a queda dos Pahlevi no Irã e o início da doutrina Carter que cria o CENTCOM como principal comando militar dos EUA, para policiar exatamente Golfo, Eurásia e Africa do Norte, confinar e/ou subordinar os não-feudos (Iraque, Irã) evitar e/ou conter insurgências anti-feudais como as que vemos agora (Tunísia, Egito e outras que virão) e afastar os outros "bichos-com-sede": Rússia e, crescentemente, China.

Com relação a esta última e seus afro-movimentos e bem como ao potencial "oleaginoso" africano, já identificado então, observa-se a necessidade da criação do AFRICOM, que agora triangula do CENTCOM com o "nosso" SOUTHCOM, que ainda teve o reforço do reativamento da “velha e old” 4ª Frota.

No caso atual, o Presidente Obama, infelizmente, não pode fazer nada muito diferente.

Ele foi eleito para fazer diferente. Quando e se lhe for dado tomar posse, ele talvez até faça.

Mas quando se trata destes dois temas: energia e guerra (que são praticamente sinônimos naquele país) os abutres voando acima e os ratos conspirando nos porões mandam muito mais que o sujeito que pensa que está dormindo na cama de Lincoln.

Nem o Congresso, apesar de fazer parte, tem o mínimo domínio sobre a intricada teia.

Finalmente, o elemento "intangível" que, entretanto, vejo como grande motor ideológico a permitir todas as ações e a inacreditavelmente "vaselinar" toda essa sub-humanóide passividade planetária que trata com absurda naturalidade a perpetuação ora aqui ora ali, mas sempre em todo lugar, deste ou daquele "policial do mundo”, é a doutrina subjacente do "Imperialismo Civilizatório" que é bem representada pelo poema de 1899 de Rudyard Kipling feito, inicialmente para o jubileu da Rainha da Inglaterra, mas adaptado e ostensivamente divulgado e aplaudido - mais uma vez para aplacar o clamor anti-beligerante do povo estadunidense - como como um libelo, um cântico de louvor à invasão genocida dos Estados Unidos nas Filipinas:

Carregai o fardo do Homem Branco / Disseminai o melhor da vossa raça
Atai vossos filhos ao exílio / Para servir à necessidade de seus cativos
Para esperar sob pesadas armaduras / Por gentes agitadas e selvagens
Seus recém-capturados, carrancudos povos / Meio-diabos e meio-crianças.
(...)
Carregai o fardo do Homem Branco / Em paciência para suportar
Para disfarçar a ameaça do terror / E assistir ao espetáculo do orgulho [nascer]
Pelo discurso aberto e simples / Uma centena de vezes esclarecido
Para buscar o benefício do próximo / E preparar o progresso do outro.
(...)
Carregai o fardo do Homem Branco / As guerras selvagens da paz
Abastecei a boca do faminto / E ofertai contra a doença a cura
E quando vosso objetivo estiver mais próximo / O fim para outros buscado
Vereis a insensatez preguiçosa e pagã / Levai todas as suas esperanças ao ninguém.
(…)
Carregai o fardo do Homem Branco / E colhei vossa velha recompensa:
A censura dos que vós melhorais / O ódio dos que vós protegeis
O clamor dos anfitriões a quem vos conformastes /
(...)
(Ah, devagar!) em direção à luz:
"Por que ele nos libertou do cativeiro,
Da nossa amada Egípcia escuridão?"

É um discurso tenebroso.

Asqueroso. Repugnante. Nojento.

E eficiente. Tem sido.

Mas que mais do habitar seus criadores, ele vem nos habitando ainda a todos.

É o discurso que leva a democracia para o Iraque, os direitos humanos para o Irã.

É o raciocínio que inspirou todas as nefastas partilhas:

  • a partilha da África (ou: "A Sentença de Escárnio Plurissecular Permanente para um Continente Inteiro") - talvez, como "desagravo e reparação" pelo "Maior Escárnio Plurissecular da História Humana" ao qual o Continente já vinha sendo submetido há quatro séculos consecutivos pelo menos;
  • a partilha do espólio Otomano (por cujo vislumbre se fez a I Guerra Mundial que, por sua vez, é a mãe da II Guerra Mundial);
  • a partilha da Indochina (e do Extremo Oriente inteiro); e
  • a partilha das Américas e do espólio imperial espanhol (Filipinas, Guam, Cuba etc) repartidos entre os Estados Unidos e somente os Estados Unidos (Doutrina Monroe). 

Partilhas que definiram a maioria dos problemas que ainda vivemos até hoje (pelo menos os que acontecem entre Port-au-Prince no Ayiti, passando por Kinshasa no Congo, até a fronteira das Coréias).

É o discurso que traz a gestão eficiente para nossas empresas sob modelos que não são nossos, que premia por inovação empresas certificadas ISO, CMMI etc. Empresas que, por certo, são merecedoras de incentivo e prêmios: por padronização, modernização e muito mais – mas jamais por inovação, a menos que tenham desenvolvido um novo e melhor modelo de processos e passem a certificar os processos de outras empresas.

É o discurso do “não reinventar a roda”, um profundo desrespeito à Pirelli, Bridgestone, Firestone, Dunlop e tantas outras que a vêm reinventando há todo tempo o tempo todo.

É o discurso que faz – paradoxalmente – o marxismo europeu nos parecer libertador de tudo isso.

Mais socialista e socializador que as extremas formas de comunhão solidária que habitam entre nós há milênios vestidas – ou nuas – de Aymaras, Quíchuas, entre outros que estranhamos quando começam a governar países vizinhos.

É o discurso que nos faz desconhecer a quântica, a Teoria da Relatividade, a Teoria da Evolução que não enxergamos no Candomblé mas nos faz ver usos Freudianos para a Mitologia Grega sem que nos passe pela cabeça que Zeus, Odin, Oxalá, Oshun (Santería Cubana), Bondyié (Vodou Ayisien) são todos primos.

Até que chega um sociólogo francês abestado qualquer e se encanta com Patativa do Assaré para que, de repente, descubramos que sempre “o já tínhamos descoberto”.

É o discurso que faz de todas as nossas grandes conquistas - como a tecnologia que nos deu o pre-sal, como nosso reator nuclear com eixo subatritado sobre colchão eletromagnético, os aviões da Embraer, nossos biocombustíveis e muito mais – todas elas filhas de aventureiros corajosos que todos foram tratados a pontapés e chamados de delirantes dementes malucos por nós mesmos seus herdeiros beneficiários.

É o mesmo discurso que me faz indignado ao assistir à corrida global pelo carro elétrico quando há mais de 20 anos, aqui mesmo na garagem do meu prédio, dei várias voltas num carro 100% elétrico, 100% nacional, fabricado por uma empresa 100% nacional, de capital 100% nacional, desenvolvido por engenheiros 100% brasileiros com material e componentes 100% brasileiros e já testado e já fabricado em série e já vendido comercialmente e que já chegava sem maiores problemas aos 90km/h. João do Amaral Gurgel, o “pai” ou, melhor, “gladiador” do Itaipu, ouviu do seu examinador ao entregar como projeto – diferente do pedido – de final de curso, o projeto do primeiro carro 100% brasileiro a seguinte frase: “nós somos brasileiros, nós não inventamos carros, nós compramos carros”. Ele foi em frente e montou sua indústria aos poucos e aos trancos e barrancos enquanto, em paralelo, ia falindo também. Imaginem o Itaipu, se o projeto tivesse recebido sequencia, hoje, 20 anos depois.

É o discurso dos “cabeças-de-planilha” do Nassif, dos “intelectuais-de-conferências”, dos “acadêmicos-de-notas-de-rodapé”, dos “cientistas-de-peer-reviewed-journals”, dos “colunistas-de-entrelinhas” ou “jornalistas-ctr+c-ctrl+v”. Dos clubinhos, grupinhos, confrarias, movimentos.

É o discurso que nos leva a colocar nossos filhos em enfadonhas aulas de inglês, depois de espanhol, francês e italiano sucessivamente. Tudo para eles poderem, quando mais velhos, dizer em vários idiomas: “como meus pais eram burros!” Afinal, o que produz conhecimento, sabedoria, inovação, é a diversidade de perspectivas, a contraposição de visões, o cotejamento de versões. E para abarcar toda a barca da navegação do tal Ocidente pela história do aprendizado já nos basta o Espanhol (nossa língua-irmã quase gêmea) e o Inglês, com talvez um adorno, por capricho ou algum interesse ou objetivo específico, uma rebuscadinha no alemão ou francês. No mais, é tão somente redundância, chuva no molhado, incremento residual. Seria até válido, não houvesse um mundo inteiro a nos esperar. Mas nos cegamos – exceto quando alguém como, os Estados Unidos, por exemplo, nos acorda. O que pode nos fazer andar e, mais, saltar para o futuro são os novos e novíssimos (quando ancestrais mas mantidos ocultos, ignorados, indecifrados ou protegidos) mananciais de conhecimento em mandarim, árabe, russo, japonês, farsi, malaio (e suas variações que cobrem meio bilhão de pessoas), coreano, banto, swahili, turco e, um pouco menos, norueguês/sueco e/ou finlandês. Criar contingentes significativos no domínio desses idiomas e respectivas culturas e ciências relacionadas – inclusive através de acordos bilaterais de cooperação – tanto na base como no topo dos nossos sistemas educacionais precisa ser uma das preocupações centrais do planejamento nacional.

Em vez de nos preocuparmos em julgar o sistema sócio-político-econômico que só os próprios iranianos têm o direito a julgar, deveríamos aproveitar o isolamento que existe para que nossas universidades fossem das primeiras do mundo a estabelecer um diálogo consistente com a vibrante academia iraniana.

Diante das tragédias que se abateram sobre a região serrana do Rio de Janeiro fiquei impressionado em não ver nenhuma citação ao maior caso de sucesso dos últimos tempos em termos de alta tecnologia aplicada à gestão emergencial de catástrofes. Uma solução que nasceu no Quênia, em swahili, e em menos de 48 horas estava totalmente implantada – em ambiente oni-aberto, multimeios e totalmente colaborativo – salvando milhares de vidas em kréyol Ayisien e trazendo, por atração inercial a adesão imediata e crescente da industria da telefonia móvel, um engajamento incondicional de gigantes como o Google, o apoio precioso da academia estadunidense, um volume de participação cidadã sem precedentes em todo o Caribe, no México e, a níveis comoventes pela generosidade, nos Estados Unidos, e fazendo as Nações Unidas e diversas agências e ONGs abandonarem muito do que já haviam desenvolvido antes, muitas vezes ao custo de milhões. E tudo isso aconteceu numa velocidade impressionante, num espaço de dias.

É o discurso que nos leva a perguntar o que os Estados Unidos devem fazer em relação ao Egito?

Qual deve ser a posição do Ocidente com relação à Tunísia?

Que “Ocidente”, cara-pálida?

Se parece que fui longe demais e divaguei “na maionese” nas minha elucubrações, gostaria de começar agora e insistir e persistir mostrando e demonstrando que os conceitos muito bem sintetizados pelo poema do Prêmio Nobel da Literatura supracitado não andam só permeando subliminarmente como, mais do que que gostaríamos de admitir, dominando o discurso que não só os meios de comunicação ou os “impérios coloniais” mas que nós, também, os críticos da mídia e as colonizadas almas críticas dos “impérios coloniais” todos praticamos.

Há algum tempo, uma matéria especial do The Economist perguntava – com a naturalidade de quem pergunta se vai chover hoje ou a que horas será a próxima palestra no World Economic Forum – se, no caso de mesmo havendo mudanças radicais mas realizadas pacificamente nos regimes da Síria e do Irã, se “mesmo assim os Estados Unidos estariam à altura de arcar com o 'Fardo do Homem Branco' no Oriente Médio daqui para frente?” (America and empire | Manifest destiny warmed up? | The Economist | Edição Impressa | 14/08/2003). E a matéria cita por várias vezes nossa América Latina.

Em entrevista a Peter Hallward, o Exmo. Sr. ex-Presidente sequestrado-deposto-exilado do Ayiti Jean-Bertrand Aristide - independentemente aqui de toda e qualquer discussão sobre todos os mistérios e análises que envolvem a sua “alma” como líder, presidente e/ou “santo”/“monstro” -, dá uma aula sobre o funcionamento das “colônias” carcinogênicas de células nos organismos infectados ou, melhor, como esse colonialismo arraigado se expressa mesmo nos mais aparentemente independentes de nossos corações, almas e mentes pseudo-libertadas.

Desde as últimas eleições – aliás, antes, durante e depois – sempre que leio, vejo e ouço alguém falando tento observar o que ele(a) está carregando no seu discurso.

Se é “O Fardo do Homem Branco” (porque, é óbvio, o carregador do “Fardo do Homem Branco” - mesmo que o próprio “Homem Branco” acredite nesse conto -, sempre foi qualquer um menos ele, o “Homem Branco”). Em pelo menos 80% dos casos o maldito “Fardo” sempre está lá.

É muito mais por causa do “Fardo” e muito menos por causa da crise, que me preocupam as repercussões do Egito.

Egito que, em sequência à Tunísia, vive – na minha opinião - um dos mais fortes, exemplares e bonitos momentos da história humana destes dois séculos (XX e XXI) em que me foi dado viver, ainda que seja muito cedo para avaliar quaisquer desdobramentos.

Mas que, enfim, pode jogar por terra mais um regime canalha, mais um canalha serviçal.

E já está jogando terra sobre muitas mitologias odiosas que vêm sujando e incitando o mundo ao ódio com uma imagem falseada, que troca vítima por algoz, estigmatiza, violenta e desconstrói mais de 1 bilhão de pessoas, espalhadas por mais de 50 países, e uma vastidão de visões e interpretações de mundo, heranças culturais, científicas, filosóficas, espirituais, sejam milenares, em construção ou recém-nascentes, que poderiam estar sendo oferecidas e enriquecendo o mundo como sempre fizeram.

Burrice de quem não as quer aceitar.

Ou de nós todos que aceitamos que alguns não permitam que elas nos cheguem.

As repercussões que me preocupam estão, portanto, ligadas diretamente aos binários que apresentei:

  • ÓLEO & SANGUE

  • LOGÍSTICA & ARMAS

  • FEUDALISMO & "O FARDO DO HOMEM BRANCO"

Vivemos num Continente por demais rico e cada vez mais rico em ÓLEO (e em quase tudo mais que vai rareando mundo afora: água, biodiversidade etc – numa razão, inclusive, desproporcional imensamente a maior à sua população e território).

Vivemos num Continente por “de menos” ainda muito pobre em ARMAS.

Por um lado, desacostumado a conceitos tais como o de “derramar SANGUE pela Pátria”.

Por outro lado, acostumado, aculturado – principalmente por parte de suas elites – ao conceito do “FARDO DO HOMEM BRANCO”.

Estados que, mal ou bem, de um jeito ou outro, se libertaram do FEUDALISMO.

Economias que nem tanto ou, pelo menos, não em todo lugar.

E quanto à LOGÍSTICA, sempre estivemos bem mais perto e acessíveis.

Apenas nossas reservas não estavam, ou ainda não eram conhecidas em toda sua pujança.

Onde eram, inclusive, na Venezuela e um pouco na Bolívia, a história sempre foi um pouco diferente.

E somos uma fronteira olhando nos olhos da fronteira seguinte que é a África, já entre as garras da Águia e do Dragão.

Garras mais fortemente fincadas por aqui, podem significar grande vantagem na briga de foice – ou contra a foice – na outra margem do Atlântico.

Há muito, não consigo olhar para o discurso do ex-candidato José Serra, as intelectuais intervenções do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, as falas de muitas sumidades da academia ou do jornalismo, dos luminares tucanos ou das nulidades Democratas sem enxergar, sem ver mesmo na minha frente, escarrados, encarnados, esculpidos e cuspidos os personagens dos versos de Kipling:

“...gentes agitadas e selvagens...
...recém-capturados, carrancudos povos...
...meio-diabos e meio-crianças...”

E não consigo dissociar o recente bom desempenho das economias e sociedades sul-americanas, não somente da estabilidade democrática, da capacidade e do talento de alguns de nossos líderes mas também da benvinda ausência de nossos queridos e amados melhores aliados, amigos e defensores, atolados que andavam em areia e problemas até o pescoço.

Mas eis que eles resolvem sacudir do corpo a areia do deserto e experimentar a bem mais agradável areia de Macaé?

E resolvem vir nos ajudar a carregar nosso fardo?

E salvar nossa economia (como já fizeram antes via FMI) que vai bem mas poderia ir bem melhor como, aliás, PSDB e assemelhados vivem proclamando?

E nos defender de uma possível invasão, digamos, panamenha?

Ou dos fanáticos Fundamentalistas da jihad Bolivariana?

Enfim, e se vierem nos recivilizar?

O dinheiro já há muito está "descendo" a rodo para todas as ONGs, partidos, veículos, movimentos sociais, ambientais, de direitos humanos, religiosos e “democráticos” existentes e/ou fictícios da Venezuela.

E o ponto-de-equilíbrio do investimento está objetivamente planejado para o próximo ano em que “El Grande Ditador” Mais Eleito do Mundo enfrentará sua 13ª (um pouco mais ou menos) eleição consecutiva (todas avalizadas por observadores internacionais).

Em breve, teremos eleições também lá em cima e como disse o jornalista Paulo Henrique Amorim, vai que não dá reeleição...

Para que buraquinhos Sarah Palin ou similares irão apontar seus sedentos canudinhos?

Para que carnudas veinhas apontarão seus caninos protuberantes?

Que fardo-estivadores deste sofrido mundo decidirão aliviar?

Do Egito, esta é a única praga que temo.

Que o efeito dominó acelere a imperativa demanda do "Império Civilizador", após já ter civilizado os 10.000 anos da civilização de Imhotep, por civilizar novos mundo.

E Novo Mundo, até onde sei, somos nós mesmos.

A Secretaria de Estado dos Estados Unidos da América já declarou oficialmente que a América Latina é sua prioridade para os próximos dois anos ao lado da recuperação da posição de liderança dos Estados Unidos no cenário global.

Eu, sinceramente, recuso, refuto, rejeito, renego, repilo e expilo qualquer liderança.

E exijo, e faço questão de carregar meu imenso, pesado, sujo fardo sozinho.

Qualquer cidadão estadunidense, povo que adoro, a passeio ou negócios, seja benvindo.

Nada do Estado, nada do Governo, nada relativo a ajuda, por outro lado, será.

Pelo contrário, defendo com toda e ainda mais veemência a unidade sul-americana e sua aproximação com a África, o Mundo Árabe, o fortalecimento do BRICS, IBSA (e quaisquer conjuntos de letrinhas, com o mínimo de “U”s e “E”s, de preferência), Mercosur, UNASUR e a defesa inarredável da auto-determinação e soberania de toda e qualquer nação, por mais estranhos que seus hábitos e modelos me pareçam, e a reforma urgente e radical dos sistemas de governança e representação global sem a qual eles simplesmente nada representam em legitimidade.

Acima de tudo, por mais lento que o processo se apresente e utópica que a causa pareça, estou convicto de que vivemos “Tempos de Peteleco”: um daqueles raríssimos momentos da história em que tudo anda por um fio e um simples empurrãozinho, um “peteleco”, para lá ou para cá, pode fazer toda a diferença – e, portanto, estou em campanha aberta e franca contra toda e qualquer interferência de uma nação ou grupo de nações em outra ou sobre outro grupo de nações, sanções ou bloqueios de qualquer e por qualquer sorte, e qualquer presença de qualquer contingente militar ou artefato bélico para além das fronteiras de seu próprio país.

Só para começar!

O fluxo de capitais com destinação "político-empreendedora" vem logo a seguir.

LET'S CALL TROOPS BACK HOME!

Vejo como imprescindível o “cinturão bolivariano” que hoje nos cerca.

Vejo como imprescindível a auto-determinação e soberania do Irã.

E que nosso mar nunca se torne vermelho, nem morto.

E que a paz esteja sobre todo o povo do Egito.

E sobre todos nós.

Odoiá!

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por Guilherme de Alarcon Pereira
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Salvador, Bahia, 02 de fevereiro de 2010
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Dia de Yemanjá
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Mãe das Águas, Rainha do Mar.
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VEJA TAMBÉM:

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  1. A Mídia como ela é. O Islã como ele não é.
  2. O Choque de Civilizações
  3. The Most Powerful Woman in the World
  4. O Legado Lula & A Campanha Que Não Acabou
  5. El Legado de Lula (Canal 7 - Argentina)
  6. Homenagem do Continente a Lula da Silva
  7. Honra ao Mérito
  8. Eu Vivi para Ver Meu Povo Virar Estrela
  9. O Homem Mais Sábio Que Conheci em Toda Minha Vida...
  10. Um Momento Histórico "Ao Sul da Fronteira" | Nada parecido desde Bolívar!
  11. O homem que soube dizer 'não', 'por que não?' e 'sim, nós podemos'!
  12. A Falsa Democracia (por José Saramago) e A Força do Brasil
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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A Mídia como ela é. O Islã como ele não é.

A PROPAGAÇÃO DO NEO-ORIENTALISMO.
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A mídia constrói continuamente uma associação do Islã
com a instabilidade da guerra e a repressão,
criando um estereótipo falso.


É difícil imaginar em meio a onipresença do discurso atual, que há apenas três décadas atrás o Islã tenha sido uma preocupação marginal relegada à periferia da consciência ocidental.

Quando encontrávamos relatos na imprensa durante a guerra fria, era mais provável ser na figura do "mujahideen" enfrentando o "Império do Mal" no Afeganistão.

O Islã aparecia como um aliado benigno das forças da liberdade acampadas em Nova York e Londres.

O que, enfim, o trouxe para o centro das preocupações euro-americanas foram os eventos que ocorreram em 11/09.

O Islã se tornou uma questão local e globalizada ao mesmo tempo, transmitida em incontáveis imagens diárias por todo o planeta.

Desde então, raramente um dia passa sem que se ouça, leia ou assista relatos de algum evento aterrorizante com ligação muçulmana.

A presença das minorias muçulmanas nas capitais ocidentais complicou ainda mais as coisas, agravando a interação intricada entre o local e o global.

Os temores de uma ameaça muçulmana perpétua se sobrepôs a medos arraigados de imigrantes, diferentes, e estrangeiros.


EXPONDO A VERDADE

A cobertura do Islã se transformou em uma indústria especializada na engenharia de imagens, cenas e mensagens.

Em um mundo globalizado, governado pelo poder da imagem, a questão não é mais o que provocou o evento ou o incidente e como ele vem se desenvolvendo na prática, mas como ele é capturado pela câmera e retratado para os telespectadores, ouvintes e leitores em casa.

Alguns podem argumentar que a mídia apenas reporta o que já existe.

Contudo, as coisas não são tão simples no mundo real.

Para a lente nada é neutro nem objetivo.

Ela está sujeita a um conjunto de opções pré-definidas e a cálculos que decidem o que vemos e o que não vemos, o que saberemos e não saberemos.

A mídia não é um espelho refletindo o que está lá fora.
 
O seu papel não é a simples transmissão passiva, mas a criação ativa, a modelagem e a fabricação, através de um longo processo de seleção, filtragem, interpretação e edição.

Os braços ocultos que conduzem as rédeas de nossa mídia - as corporações gigantes da notícia e seus senhores - não são instituições beneficentes de caridade impulsionadas pelo amor à humanidade.


PARADIGMAS DA DIVULGAÇÃO

Dos 57 países da vastidão geográfica e cultural conhecida como o mundo muçulmano,
  • alguns são ricos, outros pobres,
  • alguns monárquicos, outros republicanos,
  • alguns conservadores, outros liberais,
  • alguns estáveis, outros menos,
  • alguns têm mulheres presidindo o Estado, outros lhes negam mesmo o direito de voto,
  • alguns oprimem em nome da religião, outros o fazem em nome do secularismo,  
  • etc etc etc

Mas este mosaico variado é notavelmente ausente da cobertura majoritária do assunto.

O que é misturado, complexo, diversificado e multi-facetado é trasmutado em uma superficialidade aplainada, rasa, sem profundidade, reduzido a um conjunto restrito de narrativas sobre terroristas sedentos por sangue, turbas aos berros, negros turbantes, mulheres espancadas e filhas enjauladas.

O mundo muçulmano se transforma num objeto silencioso que não fala. Mas que se fala por ele.

Um pano-de-fundo anônimo contra o qual se ergue o repórter enviado da metrópole.

Ele - 'o repórter enviado da metrópole' - é o agente de entendimento, aquele que decifra os misteriosos códigos dessa estranha entidade - 'o mundo muçulmano' - e revela seus segredos para nós: é aquele que lhe dá sentido, verdade e ordem.

Em nenhum lugar esse desejo por superficialidade e reducionismo é mais evidente do que nos relatos de conflitos no Oriente Médio.

Aos espectadores são oferecidos alguns poucos minutos durante os quais eles assistem e escutam descrições de destruição e fumaça, carros incendiados, corpos queimados, membros decepados, sangue e viúvas em prantos.

Sem nenhuma tentativa em explicar as causas subjacentes e as histórias das crises em questão, os relatos apenas embaralham ainda mais os mal-entendidos já existentes.

A confusão é tal que os papéis são invertidos frequentemente, confundindo vítima com agressor


PRISMAS DE PERCEPÇÃO

Tudo isso, vem sendo confirmado por vários estudos, como o realizado após a Intifada Palestina por Greg Philo e Mike Berry, do Glasgow University Group.

Os pesquisadores monitoraram horas de cobertura da BBC e ITV sobre a Intifada de 2002, analisaram 200 programas de notícias, e entrevistaram mais de 800 pessoas sobre suas percepções do conflito.

Os investigadores encontraram um nível alarmante de ignorância e confusão entre os espectadores, dos quais apenas 9% sabiam que os "territórios ocupados", foram ocupados por Israel, enquanto a maioria acreditava que os palestinos eram os ocupantes.

Isso não surpreende, dada a cobertura desequilibrada e sua tendência a obscurecer a verdade central do conflito:
  • não nos dizem que mais de 418 aldeias palestinas foram destruídas em 1948,
  • que os seus habitantes foram expulsos em centenas de milhares,
  • que Israel estava em grande parte estabelecido pela força em 78% da Palestina Histórica,
  • que, desde 1967, havia ocupado ilegalmente e imposto várias formas de governo militar sobre os restantes 22%,
  • ou que em sua maioria os palestinos - mais de 8 milhões - vivem como refugiados até hoje.

Reportagens sobra a guerra do Iraque não se saem melhor.

O espectador é levado a pensar que os males do país estão enraizados na sede por sangue de seu povo e no seu amor pela auto-mutilação, com uma seita e/ou etnia obcecada pela destruição da outra.

Os estadunidenses surgem como mediadores benignos, cujo papel consiste em impor a ordem e prevenir os diferentes grupos de exterminar-se uns aos outros.

As causas do estado de caos permanente são cada vez mais varridas para baixo do tapete:
  • o forte exército de 150.000 soldados enviado para invadir um país a centenas de quilômetros de distância;
  • a destruição de sua infra-estrutura;
  • a demolição sistemática de sua memória coletiva nacional;
  • a profanação de sua herança cultural;
  • a "montagem" de uma minoria étnica e de um sistema político baseado no sectarismo;
  • a dissolução do exército a pretexto da dissipação da influência do Partido Baath;
  • o armamento de uma facção contra a outra - primeiro o Peshmarga Curdo, em seguida as milícias xiitas a pretexto de "confrontarem o triângulo sunita" e, finalmente, as tribos sunitas de al-Anbar sob o pretexto de combaterem a Al Qaeda.

O que os noticiários não nos dizem é que os iraquianos continuam a sofrer não porque são árabes, muçulmanos, de pele escura, ou seguidores de uma cultura religiosa "inerentemente violenta", mas porque são vítimas de um jogo de poder impiedoso que os viu como pouco mais que insetos, criaturas inúteis para serem pisadas sem a preocupação de contar os mortos.

O Ocidente parece ter criado sua própria "máquina da verdade" em relação ao Islã, muçulmanos, árabes e Oriente Médio.

Através dela, as lentes são direcionadas e pequenas narrativas são produzidas e reproduzidas ad infinitum.

Os títulos e manchetes podem variar, mas eles retroconduzem a um estreito círculo de noções que define a sociedade muçulmana igualmente aos olhos tanto dos produtores quanto dos consumidores domesticados.

Noções que se resumem a violência, fanatismo, irracionalidade, emotividade, estagnação subordinação e despotismo.

Noções que são os pilares de uma ortodoxia que é popularizada pela mídia e sustentada por uma complexa rede de centros de poder e instituições.

Para desafiá-las alguém precisa abandonar o senso comum, se colocar na marginalidade, alinhar-se aos hereges e aos monstros de verdade.

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Soumaya Ghannoushi é uma escritora independente especialista na história das Percepções Européias do Islã. 
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Seu trabalho tem aparecido em vários dos principais jornais britânicos, incluindo o The Guardian e o The Independent.
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Traduzido “rushly” (apressadamente) e “pigly” ('”porcamente'”) 
por Guilherme de Alarcon Pereira
(insensato, marginal, herege e monstro; além de blogueiro sujo).
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